De início, o 12º jogador assumiu a faceta que o celebrizou.
Público fervoroso e pronto para apoiar a sua equipa, no inferno da Luz com 60 e
muitas mil chamas. O 12º jogador não toca na bola, a não ser quando há um
remate para as nuvens, e hoje até houve muitos, mas é como se tocasse, pelo
apoio, pela transcendência e força que confere aos 11 que lá estão dentro. O
12º jogador não faz marcações defensivas aos adversários, mas amedronta,
intimida, enerva e desconcentra o adversário. E o adversário hoje era, o
Chelsea, mas principalmente o Drogba. O Di Mateo é novo nestas andanças de
treinador, mas percebeu isso. Deixou-o no banco e fintou o 12º jogador, que
logo aí pode ter ficado baralhado.
O 12º jogador também apresenta um temperamento instável e volátil,
relativamente à influência que nele exerce o que lhe é alheio (lá está). O
desenrolar do jogo, não sendo do seu controlo, é lhe alheio e encarregou-se de
o provar. O David Luiz tira o pão da boca ao Cardozo, impedindo-o de fazer golo.
Esta do “pão da boca” também é gira, é natural que o Cardozo estivesse com
fome, pois não deve ter jantado: “não se faz isso a um dos nossos oh cabeludo”
gritou o 12º jogador. Convém lembrar que ele já não é nosso, nem pode mesmo ser
considerado um 12º jogador, daqueles que fica para a história, portanto convém
manter a distância emocional. O mesmo se aplica ao Ramires que fez miséria do
Emerson. E o 12º jogador, mais baralhado ficou: “então mas apoio qual dos
brasileiros? O mais bonito? São os dois feios! … olha, mal por mal, assobio o que
joga pior”. Já não bastava o Ramires ser ele próprio um 12º jogador, com os desequilíbrios
ofensivos que provoca e os defensivos que oferece (como é prova o último
campeonato ganho pelo Benfica), e o 12º jogador resolve tornar o Emerson num
jogador a menos do nosso lado, assobiando-o sempre que toca na bola. Já na
segunda parte o David Luiz voltou a ser um 12º jogador e vence em cima da linha
de golo, novo duelo com o Cardozo. Isto é demais para o 12º jogador das bancadas!
O 12º jogador, pode e deve também ser o treinador. Ninguém percebeu ainda, porque saiu o Aimar para entrar o Matic. A ideia era
poupar o Aimar? Não será este, actualmente o nosso 12º jogador? Bem que podia,
um 12º jogador qualquer, ter dito ao Jesus que ele não vai poder jogar os
próximos dois jogos do campeonato. A perda do controlo do jogo foi instantânea.
E nos momentos seguintes, o 12º do Chelsea, o Ramires, dá início à jogado do
golo da forma que lhe é característica, isto é, em garra. Mérito também ao
Torres que parece começar a ir buscar forças ao seu 12º jogador interior para
renascer das prolongadas cinzas em que se encontrava. Já o Jesus cada vez se enterra mais, parece precisar de um 12º jogador, ou vários, para
conseguir implementar o rotatividade a sério. Esta época até parecia que o
estava a fazer melhor, mas afinal, parece que dos 3 primeiros do campeonato, o
Benfica é o que utilizou menos jogadores, e os mesmos jogadores mais vezes. A
verdade é que mais uma vez chegamos a esta fase da época e parece que perdemos
soluções. É a tal questão da quaresma que já aqui falei.
O 12º jogador, podia também ter sido um daqueles que está no
relvado, vestido de árbitro para lá da linha de fundo. Mas se lá estão apenas a
marcar presença e não vêm nada, nem mesmo um corte com o braço do Terry na
grande área, uma penalidade clara, então não sei o que estão lá a fazer. O 12º
jogador podia ainda ter sido um autogolo do Cole já no fim, mas nem nisso tivemos
sorte.
Faltou-nos um 12º jogador para empurrar, pelo menos, uma
bola lá para dentro. Um vindo do banco, mas até isso está difícil. Eu até acho
que tinhamos um 12º jogador a alinhar de ínicio. É defesa direito e ao mesmo
tempo médio e extremo, tantas são as vezes que constrói ataques. Mas também por
isso o 12º jogador, público, devia perceber que se calhar no outro flanco não
pode acontecer o mesmo. Nem todos são Coentrões, e quando é necessário que se
dê apoio, não se pode fazer exactamente o contrário. Retirá-lo e pior, assobiar
a cada toque na bola. Estávamos a jogar fora? Assim, em vez de jogarmos com 12,
jogamos com 10. Confesso que me faz confusão e até nisto devemos ser dos
maiores do mundo. É pena que pelas piores razões. Fui muitas vezes ao estádio,
agora não tanto, mas não me lembro de assobiar um jogador até ao fim do jogo.
Resta-nos esperar que em Inglaterra, cada um dos jogadores
do Benfica tente individualmente ser um 12º jogador, para que colectivamente possamos aspirar a
qualquer hipótese de passagem às meias finais. Só assim poderemos vencer o verdadeiro
12º jogador que vai ser o público do Chelsea.
Excelente texto, como tem vindo a ser hábito! Permite-me só discordar numa coisa: não foi na troca do Aimar por Matic que o Benfica perdeu forçosamente o jogo. Nessa altura entrou o homem que segurou o jogo do Chelsea e fez com que estes começassem a trocar a bola (na segunda parte não tinham feito ainda 3 passes seguidos com nexo!), Lampard! Se é certo que dificilmente aguenta já 90 minutos de um jogo daqueles, à semelhança de Aimar, a sua influência no jogo do Chelsea é enorme e até conseguiu puxar para o jogo dois jogadores da sua equipa que até aqui ainda nem tinham aparecido: Torres e Kalou. Curiosamente, acabariam por ser eles os envolvidos na jogada do golo! Ainda assim, nada está perdido. O Chelsea pode deslumbrar-se para a segunda mão, e o Benfica, marcando um golo lá, tem as portas abertas para fazer a reviravolta em solo inglês (onde os clubes portugueses estão tão habituados a ganhar!).
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