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28 de março de 2012

12º Jogador

Por definição, uma idiossincrasia é: “temperamento especial de cada indivíduo, relativamente à influência que nele exerce o que lhe é alheio”. O 12º jogador, sendo ele próprio uma das idiossincrasias mais curiosas do futebol, apresenta também, como “indivíduo”, várias idiossincrasias. Hoje especialmente acho piada a este 12º jogador, embora que com um sorriso amarelo. Na luz ele esteve omnipresente com vários poderes diferentes.

De início, o 12º jogador assumiu a faceta que o celebrizou. Público fervoroso e pronto para apoiar a sua equipa, no inferno da Luz com 60 e muitas mil chamas. O 12º jogador não toca na bola, a não ser quando há um remate para as nuvens, e hoje até houve muitos, mas é como se tocasse, pelo apoio, pela transcendência e força que confere aos 11 que lá estão dentro. O 12º jogador não faz marcações defensivas aos adversários, mas amedronta, intimida, enerva e desconcentra o adversário. E o adversário hoje era, o Chelsea, mas principalmente o Drogba. O Di Mateo é novo nestas andanças de treinador, mas percebeu isso. Deixou-o no banco e fintou o 12º jogador, que logo aí pode ter ficado baralhado.

O 12º jogador também apresenta um temperamento instável e volátil, relativamente à influência que nele exerce o que lhe é alheio (lá está). O desenrolar do jogo, não sendo do seu controlo, é lhe alheio e encarregou-se de o provar. O David Luiz tira o pão da boca ao Cardozo, impedindo-o de fazer golo. Esta do “pão da boca” também é gira, é natural que o Cardozo estivesse com fome, pois não deve ter jantado: “não se faz isso a um dos nossos oh cabeludo” gritou o 12º jogador. Convém lembrar que ele já não é nosso, nem pode mesmo ser considerado um 12º jogador, daqueles que fica para a história, portanto convém manter a distância emocional. O mesmo se aplica ao Ramires que fez miséria do Emerson. E o 12º jogador, mais baralhado ficou: “então mas apoio qual dos brasileiros? O mais bonito? São os dois feios! … olha, mal por mal, assobio o que joga pior”. Já não bastava o Ramires ser ele próprio um 12º jogador, com os desequilíbrios ofensivos que provoca e os defensivos que oferece (como é prova o último campeonato ganho pelo Benfica), e o 12º jogador resolve tornar o Emerson num jogador a menos do nosso lado, assobiando-o sempre que toca na bola. Já na segunda parte o David Luiz voltou a ser um 12º jogador e vence em cima da linha de golo, novo duelo com o Cardozo. Isto é demais para o 12º jogador das bancadas!

O 12º jogador, pode e deve também ser o treinador. Ninguém percebeu ainda, porque saiu o Aimar para entrar o Matic. A ideia era poupar o Aimar? Não será este, actualmente o nosso 12º jogador? Bem que podia, um 12º jogador qualquer, ter dito ao Jesus que ele não vai poder jogar os próximos dois jogos do campeonato. A perda do controlo do jogo foi instantânea. E nos momentos seguintes, o 12º do Chelsea, o Ramires, dá início à jogado do golo da forma que lhe é característica, isto é, em garra. Mérito também ao Torres que parece começar a ir buscar forças ao seu 12º jogador interior para renascer das prolongadas cinzas em que se encontrava. Já o Jesus cada vez se enterra mais, parece precisar de um 12º jogador, ou vários, para conseguir implementar o rotatividade a sério. Esta época até parecia que o estava a fazer melhor, mas afinal, parece que dos 3 primeiros do campeonato, o Benfica é o que utilizou menos jogadores, e os mesmos jogadores mais vezes. A verdade é que mais uma vez chegamos a esta fase da época e parece que perdemos soluções. É a tal questão da quaresma que já aqui falei.

O 12º jogador, podia também ter sido um daqueles que está no relvado, vestido de árbitro para lá da linha de fundo. Mas se lá estão apenas a marcar presença e não vêm nada, nem mesmo um corte com o braço do Terry na grande área, uma penalidade clara, então não sei o que estão lá a fazer. O 12º jogador podia ainda ter sido um autogolo do Cole já no fim, mas nem nisso tivemos sorte.

Faltou-nos um 12º jogador para empurrar, pelo menos, uma bola lá para dentro. Um vindo do banco, mas até isso está difícil. Eu até acho que tinhamos um 12º jogador a alinhar de ínicio. É defesa direito e ao mesmo tempo médio e extremo, tantas são as vezes que constrói ataques. Mas também por isso o 12º jogador, público, devia perceber que se calhar no outro flanco não pode acontecer o mesmo. Nem todos são Coentrões, e quando é necessário que se dê apoio, não se pode fazer exactamente o contrário. Retirá-lo e pior, assobiar a cada toque na bola. Estávamos a jogar fora? Assim, em vez de jogarmos com 12, jogamos com 10. Confesso que me faz confusão e até nisto devemos ser dos maiores do mundo. É pena que pelas piores razões. Fui muitas vezes ao estádio, agora não tanto, mas não me lembro de assobiar um jogador até ao fim do jogo.

Resta-nos esperar que em Inglaterra, cada um dos jogadores do Benfica tente individualmente ser um 12º jogador, para que colectivamente possamos aspirar a qualquer hipótese de passagem às meias finais. Só assim poderemos vencer o verdadeiro 12º jogador que vai ser o público do Chelsea.

1 comentário:

  1. Excelente texto, como tem vindo a ser hábito! Permite-me só discordar numa coisa: não foi na troca do Aimar por Matic que o Benfica perdeu forçosamente o jogo. Nessa altura entrou o homem que segurou o jogo do Chelsea e fez com que estes começassem a trocar a bola (na segunda parte não tinham feito ainda 3 passes seguidos com nexo!), Lampard! Se é certo que dificilmente aguenta já 90 minutos de um jogo daqueles, à semelhança de Aimar, a sua influência no jogo do Chelsea é enorme e até conseguiu puxar para o jogo dois jogadores da sua equipa que até aqui ainda nem tinham aparecido: Torres e Kalou. Curiosamente, acabariam por ser eles os envolvidos na jogada do golo! Ainda assim, nada está perdido. O Chelsea pode deslumbrar-se para a segunda mão, e o Benfica, marcando um golo lá, tem as portas abertas para fazer a reviravolta em solo inglês (onde os clubes portugueses estão tão habituados a ganhar!).

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